quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O mestre como deve ser...poesia

O mestre transmite sabedoria, incentiva o bom senso e o bom gosto. .
Mergulha fundo no oceano de dúvidas que o aluno tem no coração,
e traz o tesouro pulsante lá submerso.
Educa, orienta, aviva a chama na consciência de cada.
Ao polir a pedra bruta consegue intenso brilhante.
O mestre é aquele que não exige, não cobra — obtém.
Não corrige — mostra o porquê.
Não hesita quando avalia, não constrange quando examina.
E nunca faz da nota uma espada.
O mestre não só ensina, compreende.
Não levanta a voz, amplifica o verbo, convence.
É sério — mas ri da própria seriedade.
Fala do êxtase, da alegria e da profunda emoção
que explode no seu peito quando ensina,
como pétalas no riso de quem ama.
O mestre mostra ao aprendiz a diferença entre o silogismo e a serpente.
Ensina-o a extrair raiz quadrada com poesia.
Demonstra como ser ousado sem ser burro.
Jamais abusa da confiança do estudante,
não lhe invade o espaço, não procura condicioná-lo.
Não cria relações de dependência,
nem exerce dominação sádica sobre ele.
Infunde-lhe o respeito absoluto pela vida.
Prefere o estudante criativo ao bem-comportado.
Nunca o explora, é só o conquistador de um novo mundo,
que leva o aprendiz a ver mais — mais alto e mais longe.
Não levanta paredes em torno do estudante,
e sim derruba aquelas que houver.
Abre-lhe as portas da vida, com veemência.
Não o repreende, não o censura, não o recrimina.
Mostra a importância da inteligência na determinação do seu futuro.
O velho dilema entre a caneta e a vassoura...
Como Sócrates, o mestre não vê glórias no que sabe,
não esconde o que conhece, nem oculta o que possa não saber.
Brinca, tem confiança em si, e não faz da escola uma cela.
Moderno, convence o aprendiz a saltar os muros da tradição,
porque a aventura está sempre do outro lado.
Lógico, respeita aquele que aprendeu a questionar.
Não o sufoca com preconceitos nem com juízos de valor.
Nem lhe causa medo algum.
Transmite confiança, pega na mão, aplaude, incentiva,
suporta, conduz, ampara na travessia.
Não é hipócrita, faz o que diz e diz o que pensa.
É um farol que não vela o que descobre.
Mostra um caminho.
E não apenas mostra — demonstra, comprova, define.
Aranha em teia de luz, o mestre não prende — liberta.
Carrega o giz como fosse uma flor, com amor.
E quando faz a linha tem firmeza, mas não separa.
Ora Dali, ora Picasso, vai colocando a tinta,
pondo seu traço, amando seu gesto, compondo a canção.
Enaltece o risco do sonho, o círculo do fogo,
a pureza da alma, o princípio da vida, o anel da esperança.
Considera o estudante obra de arte quase inacabada.
Ama-o como se fosse um anjo.
E nunca vai matar-lhe no peito a vontade de ser livre.

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